paulinhofleck

A arte secular do arco de serra ainda respira

Para falar sobre a vida, se pode partir de diferentes pontos. Se pode falar da relação de dois indivíduos, ignorando-se a vida gerada por um único indivíduo, por exemplo a bactéria. Se pode falar sobre a vida a partir do ponto de vista da bactéria, ignorando-se daquilo que a bactéria é constituída, assim como toda, literalmente, toda a vida é constituída: compostos orgânicos e inorgânicos. Se pode falar sobre a vida a partir da dança de compostos orgânicos e inorgânicos, ignorando-se do que eles são constituídos: pelos elementos químicos. Seria este um bom ponto de partida para falarmos sobre a vida, ou seria interessante retroceder mais? Ao retrocedermos mais, entramos em um mar homogêneo, onde não há diferenças nos seus constituintes. Um próton presente no átomo de hidrogênio é igual ao presente em qualquer outro elemento. E não poderia ser diferente – o hidrogênio é o elemento mais presente no universo e a partir dele, são construídos os elementos mais pesados. O nosso Sol, no afã de manter sua estabilidade contra a força da gravidade, realiza a fusão de dois átomos de hidrogênio em um átomo de hélio e a energia excedente é capturada pela vida. Isso acontece dentro de cada estrela ativa no universo.

Assim, o que irá conferir qualidades diferentes aos elementos químicos será a quantidade de prótons. Dito isso, podemos dizer que descrever a vida a partir dos elementos químicos será a descrição mais geral possível, de onde todas as outras descrições irão emergir. A vida apresenta inúmeros estados de humor: alegre, triste, raivoso, melancólico, fechado, aberto e por aí vai. Os elementos químicos também apresentam diferentes humores, dependendo se estiverem sós ou acompanhado de outro(s). Os gases nobres torcem o nariz quando outro elemento químico propõem uma conexão. Eles são fechados. Já o hidrogênio pode tornar-se um ácido extremamente corrosivo ou se tornar como uma bola de enfeite de Natal ao decorar uma monstruosa proteína. Mas existe um elemento químico que não vê limites na sua capacidade de arquitetura de conexão consigo mesmo ou com outros elementos. Este elemento é o carbono. E não simplesmente pela sua grande capacidade de arquitetura química, mas também na sua capacidade de preservar uma informação, considerando-se informação como a definida por Shanon e Wiener na Teoria Matemática da Informação, teoria esta que permitiu o desenvolvimento da computação e de todos os benefícios decorrentes. A autopoiese, que é a capacidade de auto-organização da matéria, desenvolvida por Maturana e Varela é fruto da capacidade do carbono preservar uma informação. Desta capacidade, uma das mais conhecidas é o DNA, onde toda a informação está guardada para a geração seguinte.

Se existe alguém ou alguma coisa que podemos venerar por estarmos aqui é ele.  Nada mais justo que se fazer uma poesia em sua homenagem, obviamente com a ajuda dele, pois são através de complexos algoritmos bioquímicos que desenvolvemos a capacidade de falar, sonhar, deixar-se embalar por uma melodia, tudo decorrente de sua capacidade arquitetônica química. Esta versão de Meu nome é! foi arranjada por Romulo Prezzi e eu.

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