Muita coisa já sabemos deste Universo maravilhoso, capaz de gerar vida. E aqui estamos nós, nos perguntando se estamos sozinhos. Viajamos na imaginação, com invasões alienígenas sempre nos assombrando, mas vamos com calma e pensemos um pouco: o modelo proposto por Gamow na década de 40 do século passado e que se passou a chamar de teoria do big-bang, mostrou-se consistente com a formação da tabela periódica pelas estrelas. Uma das classificações que as estrelas recebem, é quanto a sua metalicidade, que em astronomia significa a presença de outros elementos que não o hidrogênio e hélio nas estrelas durante a sua sequência principal, que é onde ocorre a fusão de hidrogênio em hélio. Estrelas da população III são as primeiras estrelas a se formarem. Sua metalicidade é praticamente nula, pois no início, só tínhamos a presença de hidrogênio e um pouco de hélio. Estas estrelas desapareceram, mas como o telescópio James Webb consegue olhar para um passado extremamente remoto, ao primeiro bilhão de anos de vida do Universo, ele também está à procura destas estrelas. Depois surgem as estrelas de segunda geração, denominadas de população II, que já apresentam traços de outros elementos que não hidrogênio e hélio. Elas estão presentes nas galáxias, inclusive a nossa, orbitando nas partes mais externas do disco.
Para que a vida consiga se desenvolver, precisa dispor de um ambiente tranquilo, com baixos índices de radiação UV e praticamente livre de radiação ionizante e muitos, muitos outros elementos químicos além do hidrogênio e do hélio. Isso acontece quando surgem as estrelas de terceira geração, denominadas de população I, em torno de 7 bilhões[i] de anos atrás.
Outra classificação que as estrelas recebem é quanto a sua emissão espectrográfica, que está correlacionada com sua massa. Estrelas como a Sirius, são classificadas como sendo do tipo A (temperatura superficial entre 7500K e 11000K) e possuem vida curta em sua sequência principal. A de Sirius é estimada em ± 1 bilhão de anos, tendo consumido já 1/3 deste tempo. Este tempo de vida é insuficiente para que a organização da matéria produza vida inteligente. Só para lembrar, o nosso Sol gastou 4,5 bilhões de anos para produzir vida inteligente. A seguir, vêm as estrelas do tipo F (temperatura superficial entre 6000K e 7500K). São estrelas que apresentam a maior área habitável, porém, a excessiva emissão de UV torna o ambiente pouco propício à organização da matéria. Na sequência, temos as estrelas do tipo G e K. O Sol é do tipo G. as estrelas do tipo K, apesar de possuírem uma área menor da região habitável, são estrelas extremamente propícias ao desenvolvimento de vida inteligente, devido ao seu longo período na sequência principal (de 15 a 45 bilhões de anos).
Outro fator importante é a velocidade de órbita que a estrela possui em torno do centro da Via Láctea. Assim como os planetas orbitam em torno do Sol, as estrelas orbitam o centro da Via Láctea no sentido horário e a velocidade de órbita está atrelada a posição que ela ocupa em relação ao centro.
Mas existe outra coisa se deslocando em torno do centro, que são os famosos braços espirais, que foram definidos como ondas de densidade por Lin e Shu nos anos 60 do século passado e seu deslocamento é como uma roda.
Tendo as estrelas diferentes velocidades de órbita em função de sua distância do centro da Via Láctea e a velocidade orbital das ondas de densidade, podemos obter três situações distintas: a estrela se desloca mais rápido que a onde de densidade, mergulhando na onda em um determinado momento; a estrela se deslocar mais devagar que a onda de densidade, sendo engolfada pela onda em um determinado momento; e possuir a mesma velocidade de rotação que a onda, possuindo a designação de corrotação, nunca mergulhando ou sendo engolfada pelo braço. Conforme estudos de Dias e Lépine[ii], mostram que o Sol possui a velocidade de corrotação, não havendo intersecção com qualquer braço espiral. Isto tem um significado profundo na possibilidade de preservação da vida, pois mergulhar em um braço significa entrar em um espaço extremamente conturbado. Para darmos um exemplo, o Sol encontra-se posicionado entre os braços de Perséus e Scutum-Centaurus, num braço local denominado de Órion, como um esporão de Perséus. A posição do Sol é praticamente solitária. Em um raio de 10 anos-luz, existem outras onze estrelas. Mas correndo atrás do Sol, temos a famosa nebulosa de Órion, distante a mais de 1200 anos-luz, um berçário de estrelas. Num mesmo raio, existem pelo menos 2000 estrelas e protoestrelas. Num ambiente assim, é muito difícil da vida elementar prosperar, muito menos a vida inteligente.
E chegamos ao último fator importante que é o tempo em que a estrela se encontra em sua fase principal. não temos ideia de qual é o tempo necessário para uma estrela produzir vida inteligente. O único parâmetro disponível é o tempo que o Sol levou para produzir vida inteligente, que somos nós: 4,5 bilhões de anos. Não precisamos tomar ao pé da letra este número, mas também não podemos ficar muito longe dele, pois a construção de uma vida complexa demanda tempo.
No raio de 10 anos-luz, temos apenas a conhecida como Alfa Centauri, que na verdade são três estrelas presas gravitacionalmente: Alfa Centauri A (tipo G); Alfa Centauri B (tipo K); e Próxima Centauri (tipo M). Alfa Centauri A e B provavelmente são fruto da mesma nebulosa e possuem uma idade estimada tomando-se uma média ponderada determinada por diferentes métodos de 5,03 ± 0,34 bilhões de anos. Apesar de atender vários requisitos, o fator complicador é a estabilidade e zona de habitabilidade para os planetas.
Se ampliarmos o raio para 20 anos-luz, encontramos a Epsilon Eridani (tipo K), muito nova, as binárias Cygni (tipo K) e Tau Ceti (tipo G), com idade aproximada do Sol, mas possui em sua órbita uma faixa muito extensa de um cinturão de asteroides.
É mais provável que o homem expanda a vida da Terra para planetas destas estrelas, antes que elas sejam capazes de produzir vida inteligente, desde que consigamos desenvolver uma forma de locomoção adequada para transpor grandes distâncias.
[i] OLIVEIRA FILHO, Kepler de Souza; SARAIVA, Maria de Fátima Oliveira. Populações estelares. Disponível em: http://astro.if.ufrgs.br/vialac/node6.htm.
[ii] Wilton S. Dias; Jacques Lépine. A velocidade de rotação dos braços espirais da Via Láctea. Rev. Bras. Ensino Fís. vol.28 no.2 São Paulo Apr./June 2006.