paulinhofleck

A arte secular do arco de serra ainda respira

Sou da geração denominada de Baby Boomers (nascidos entre 1945 e 1964). Esta geração foi precedida pela Geração Silenciosa (1925 a 1944) e seguida pela geração X (1965 a 1979), geração Y (1980 a 1996), geração Z (1997 a 2009) e geração Alpha (2010 com data final a ser confirmada). Nota-se que o tempo dos grupos mostra uma tendência de queda, pois eles são moldados a partir das condições sociais e pelos avanços tecnológicos. A Geração Silenciosa viveu a Grande Depressão e a Segunda Grande Guerra, tudo acompanhado pelo rádio à válvula e pelo gramofone.

A minha geração cresceu após a Segunda Grande Guerra e, particularmente eu, praticamente nascido no terço final deste grupo, passei minha infância e adolescência em meio à Guerra Fria e ao surgimento da televisão e da fita cassete. Me lembro ainda hoje, correr pela praça Arlindo Weber com a bandeira do Brasil como capa, comemorando a vitória do Brasil na Copa do Mundo de Futebol em 1970, assistida pela primeira vez a cores na televisão. Passei minha infância embalado pelos Beatles e uma feroz disputa entre dois modelos sociais: o capitalismo e o comunismo.

Na minha pré-adolescência, o movimento da contracultura estava no seu apogeu. Em 1971 surgia Secos e Molhados. Rita Lee e o os Mutantes cantavam a pauliceia psicodélica e os Novos Baianos embalavam o Tropicalismo. Isto sem falar na inundação da cultura estrangeira, impulsionada pela televisão, pelo disco de vinil, principal ferramenta de veiculação da música. Rolling Stone, Led Zeppelin, Black Sabbath, The Who, Pink Floyd e outros tantos eram temas recorrentes nas rodas de conversa, com a intensidade que se dá hoje ao WhatsApp.

É a fase da vida que o ser humano descobre o mundo, nas formas mais inimagináveis e possíveis. Em 1973 concluí o Ginásio. A universalização do ensino Fundamental e Médio se iniciou em 1974. Antes desta universalização, o ensino era extremamente elitista. Todos podiam frequentar o Primário, da 1ª à 5ª série, que corresponde hoje do 1º ao 5º ano. Depois, fazíamos o exame de admissão ao Ginásio, da 1ª à 4ª série, que corresponde hoje do 6º ao 9º ano. Apenas em torno de 30% dos alunos seguiam seus estudos. O resto saía em busca de trabalho.

Na minha adolescência, o ambiente se tornou mais cosmopolita. Estudei Química no Liberato. A minha turma tinha colegas de Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo, Montenegro, Estância Velha, Nova Petrópolis e Novo Hamburgo.

E então chegava o momento de pôr em prática o que até então estava na imaginação. Em 1978, havia ingressado na faculdade de Medicina Veterinária da UFRGS, mas no segundo semestre de 79 me desliguei e comecei a trabalhar no sítio da Gralha Azul no Alto Ferrabraz. Neste momento cruzo com o Paulo Gordo. Nós não só gostávamos de rock and roll. Queríamos fazer rock and roll. O Paulo, juntamente com o Geraldo (depois o Evaldo), o Newton e o Marco montam o Verde Maduro. Eu e o Paulo, mais acústico, formávamos a Chaleira Atômica, que sempre tinha convidados como Clayton Thomé e o Evaldo.

Em 1983 volto a morar na cidade, numa breve transição que me levará a um ciclo que perdurará pelos próximos vinte anos. E foi nesta breve transição que compus Juventude transviada, canção que elege a amizade como uma das melhores formas para se enfrentar os desafios da vida por uma geração que cresceu embalada pela contracultura.

A seguir, duas versões: a primeira, Clayton Thomé e Paulo Gordo cantam em show que realizaram em abril/89 no Centro Municipal de Cultura Lucio Fleck, Sapiranga/RS; a segunda, gravado no estúdio Cia da Música, com Zé Migliavacca nas cordas, Rafael Breyer na flauta e Fabiano França na bateria.

TÍTULO: JUVENTUDE TRANSVIADA

AUTOR(ES)_LETRA: Paulo Fleck

_MELODIA: Paulo Fleck

COMENTÁRIOS: música composta no inverno de 1984, no tempo do Jornal Ferrabraz, na casa de meus pais, à sombra de uma parreira.

 

OH, FAZ BEM SIM,

REVER AQUELA FIGURA,

QUE PREENCHE O PENSAMENTO,

DA GENTE,

SEI QUE JUNTOS REBATEMOS,

ESTES TEMPOS OBTUSOS.

 

PRA CIMA DE NÓS,

NÃO TEM ESSA NÃO,

DE QUE A HISTÓRIA ACABA AGORA,

DEPOIS DAQUELA CURVA,

NÓS SOMOS É MAIS TEIMOSOS,

QUE O PRÓPRIO TEMPO.

 

JUVENTUDE TRANSVIADA,

SOMOS ANTES DE MAIS NADA,

NOSSA PRÓPRIA EMOÇÃO,

DE CANTAR E SE CHAPAR,

DEIXAR ENTRAR O SOL,

DE NÃO SER MAIS QUE ABRAÇO,

SIDERADOS TOTAL.

 

MÁGICOS NA CONCEPÇÃO,

GOZAMOS DE TODA ENCENAÇÃO,

DO CARROCEL E DE NÓS MESMOS,

JUVENTUDE TRANSVIADA,

SOMOS ANTES DE MAIS NADA,

NOSSA PRÓPRIA EMOÇÃO.

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